Presidenciais
Por motivos vários, esta semana que está a terminar não foi de modo algum simpática para mim, pelo que desde domingo não tive a mínima possibilidade de publicar um qualquer "post".
Aquilo que me leva a escrever este "post" é o facto de domingo, todos nós, portugueses, maiores de 18 anos e recenseados termos a possibilidade de exercer o nosso direito de voto, e escolhermos o próximo Presidente da República.
Seis são os candidatos que se apresentam a votos, alguns outros ainda o tentaram ser, no entanto por motivos de vária ordem, não conseguiram reunir as condições necessárias para serem aceites pelo Tribunal Constitucional.
Deste modo, aqueles que conseguiram ser aceites foram: Garcia Pereira, candidato apoiado pelo partido à qual dirige, o PCTP-MRPP; Francisco Louçã, igualmente dirigente partidário, nomeadamente do BE, e candidato apoiado pelo referido partido; Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, apoiado pelo mesmo partido; Manuel Alegre, membro histórico do PS, apresenta-se nestas eleições como independente; Mário Soares, candidato apoiado pelo PS; Cavaco Silva, apresentou-se como candidato supra-partidário, no entanto, teve o apoio dos partidos mais à direita, nomeadamente o PSD e o PP.
Depois de apresentados os candidatos, vou tentar caracterizar cada um deles, a campanha e quais as minhas previsões para domingo.
Quanto aos candidatos, Garcia Pereira, apenas em 2006 teve as suas primeiras aparições nas televisões, pelo que deste modo, não teve a possibilidade de participar nos debates que decorreram nas três televisões (RTP, SIC e TVI) estando impossibilitado de expor as suas ideias e apresentar o seu estilo de governação como putativo Presidente da República. Mas para mim, e em abono da verdade, pouco ou nada o iriam ajudar a angariar mais uns votantes, penso até que só o iriam prejudicar, pois o seu estilo fundamentalista, o discurso de uma esquerda já quase inexistente na sociedade portuguesa, não conseguiria fazer com que os portugueses se identificassem minimamente com as suas ideias. Julgo inclusive, que a sua ausência dos debates, o ajudou a conservar alguns votos, principalmente daqueles, que o identificam como o advogado de Alfredo Pequito (o indivíduo que tentou incriminar a Bayer por práticas pouco legítimas no mundo da farmacêutico), ou seja, um defensor dos desprotegidos. A sua campanha tirando um outro apontamente passou quase despercebida.
Francisco Louçã, líder dos bloquistas, fez toda a sua campanha a apregoar tudo aquilo que o caracteriza (legalização das drogas leves, liberdade de matrimónio para casais homossexuais e mais umas tantas banalidades), nada mais. Mais parecia uma campanha para umas eleições legislativas e não para umas presidenciais.
Quanto a Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, contínua a fazer transparecer uma imagem de um indivíduo simpático, de trato fácil, com fortes ligações familiares, no entanto, contínua a viver nos anos 60/70. Não possui minimamente uma visão realista sobre aquilo que é a actualidade, tem claramente uma visão desajustada, onde ainda imagina possível organizações empresariais com centenas de trabalhadores com funções todas elas específicas, não aceitando a multidisciplinaridade, devido à redução de pessoal a que isso exige. No fundo, Jerónimo de Sousa defende organizações empresariais à imagem da função pública, dezenas de pessoas a tentarem cumprir a mesma função, com promoções automáticas, onde o mérito e as competências são claramente secundárias. Basta acrescentar, que contínua a apontar o dedo aos empresário de sucesso, como sendo estes os responsáveis pelos índices de desemprego existentes actualmente em Portugal.
Manuel Alegre, membro histórico do PS, avançou de modo inesperado para as eleições presidenciais, deixando muitos socialistas incomodados com tal posição. Os debates que efectuou não lhe correram evidentemente bem, sendo que nessa altura, e segundo as sondagens, perdeu terreno, para o seu adversário directo Mário Soares. No entanto, com o decorrer da campanha, e uma vez mais segundo sondagens, conseguiu recuperar o terreno perdido para o candidato apoiado pelo PS. Quanto a ideias estruturantes propostas por este candidato, não vislumbrei nada de relevante, apenas reti uma, que me surpreendeu pela negativa, ao afirmar que dissolveria a assembleia da república, caso a companhia das águas fosse privatizada.
Relativamente a Mário Soares, pouco há a dizer, sem ideias, apenas fazia questão de em todos os comícios acusar Cavaco Silva de algo.
Por fim, Cavaco Silva, apoiado indirectamente pelo PSD e pelo PP, tentou manter-se à margem de polémicas, evitou as trocas de acusações com os outros candidatos. Foi apresentando uma ou outra ideia de como irá governar, mas tentou-se sempre resguardar e procurou ser o mais politicamente correcto possível, pois não queria de modo algum perder qualquer parte que fosse do seu eleitorado.
Assim, foi uma campanha com pouco sumo e sem ideias.
Desta forma, domingo ficaremos a saber se Cavaco ganha à primeira volta, ou se vai ter de ir a uma segunda enfrentando com quase toda a certeza Manuel Alegre, pois, ou eu muito me engane, ou no domingo Mário Soares irá ter um resultado ridículo.
Se existir uma segunda volta, toda a esquerda concerteza irá reunir-se em torno de Manuel Alegre, tentando desesperadamente evitar a eleição de Cavaco Silva.
Nota: Este "post" apenas reflecte a opinião de um dos colaboradores do Adegueiro (Jaymz), pois este blog caracteriza-se pela liberdade de cada um expressar aquilo que considera sobre uma qualquer temática.
12 Comentários:
Esquerda inexistente? Não concordo com essa afirmação...
Bem, a esta hora já se sabe que Cavaco ganhou com 50,59% dos votos. O rei está morto. Viva o rei!
Por Loftarasa, Às 12:10 da manhã
Cavaco ganhou, mas não ganhou como quase toda a gente pensava.
Alegre lá fez a festa da cidadania. Soares valia mais tar quieto.
Jerónimo prova que PCP está vivo.
Louça leva com um "banho de humildade".
Por MGuerra, Às 1:47 da tarde
A esquerda inexistente a que me refiro no post, è a esquerda radical de Garcia Pereira, como é óbvio não é toda a esquerda. E estas eleições só me deram razão, pois 0,4% é um valor insignificante.
Mário Soares ainda conseguiu 14%, mas na minha opinião não deixa de ser um resultado ridiculo, ainda para mais para uma pessoa com o passado político de Mário Soares.
Por Jaymz, Às 2:06 da tarde
É curioso como estas eleições só mostram como a história se repete sempre, só mudando os protagonistas e os locais. É em tempos de crise que as pessoas se viram para as políticas de direita, políticas de "rigor, isenção, necessariamente pouco humanistas e de vertente económica". Não acho triste, acho curioso, uma vez que lembra que homens como Hitler subiram ao poder exactamente pelas mesmas razões e na mesma situação. É claro que estou a ser melodramática, mas que o povo tem memória curta tem. Ao menos Cavaco não é primeiro ministro. E é por isso que ainda durmo descansado.
Por Anónimo, Às 4:29 da tarde
Sinceramente não te percebo (Falcon) quando dizes que políticas de direita são "necessariamente pouco humanistas". Ao que parece o nosso actual PM (Eng. José Sócrates) é de esquerda, no entanto está a tomar medidas económicas rigorosas, mas realistas.
Quanto a serem pouco humanistas é muito relativo, pois se considerares que por exemplo, o aumento da idade da reforma para os funcionários públicos é pouco humanista, penso que é um pensamento erróneo, pois é claramente uma medida realista no sentido de assegurar a continuidade do sistema de reformas para as futuras gerações, ou seja, a sustentabilidade da segurança social.
E se bem te lembras, era vulgar considerar-se que aquilo que caracterizava os governos de esquerda (até ao actual) era de estes não tomarem medidas estruturantes, ou seja medidas anti-populares. Ficando isso a cargo dos governos de direita, dando-se como exemplo os governos do nosso futuro presidente da república.
Por Jaymz, Às 7:19 da tarde
Caro amigo (jaymz): Se bem que generalizações conduzam sempre exponencialmente a erros, particularizações cegas também. Acho que não é difícil constatar que o governo de Sócrates tem muito pouco de governo de esquerda, o que em muitos aspectos é bom, mas, como mencionaste, falha na parte humanista. Acho que é o problema do centro esquerda que inclina muito facilmente para a direita. Mas enfim, "politiquices" à parte, continuo a achar que os problemas deste país não advêm essencialmente de quem está sentado na cadeira do poder... é tudo uma questão de mentalidades. E isso infelizmente não muda com uma eleição... Cumprimentos a todos.
Por Anónimo, Às 10:43 da manhã
Eu não sou da opinião que Cavaco seja um homem de direita, até porque não é nada bem visto pela direita por essa Europa fora.
Quanto à vertente económica, o país precisa de um modelo apoiado no rigor financeiro. Se isso é humanista ou não, isso já nos leva para outras conversas…
De qualquer forma acho que se está a criar um bicho-de-sete-cabeças, quando profetizam um mau relacionamento entre PM/PR.
Por MGuerra, Às 1:29 da tarde
Na minha humilde opinião de alguém que detesta política (como toda a gente) e que fala dela (como toda a gente), acho que tirando PCP, Bloco e CDS/PP, não há direita nem esquerda, é apenas o centro,a tão apregoada 3ª via (tão amada pelos ingleses). Mais coisa menos coisa, cada vez vejo menos diferenças entre o PS e PSD (tirando os preconceitos que cada partido tem em relação ao outro). Com o tempo que vai passando desde o 25 de Abril, os políticos vão substituíndo os lutadores. Os políticos actuais nasceram na política, não foram lá parar por acaso. Com isto, não digo que estão menos ou mais capacitados para governar, simplesmente não acho o Sócrates tão diferente do Cavaco pelo simples facto que ambos são políticos, governam Portugal a pensar no estrangeiro e na União Europeia, deixando algum tempo livre para nós, comuns cidadãos que se preocupam apenas com o défice familiar e com o que chega à conta no final do mês. A especulação já existe desde os candiadatos a candidatos, não me admira o quadro que a comunicação social e colunistas andam a pintar entre o futuro PR e o actual PM. Pessoalmente acho que o Cavaco, agora que já lá está, não vai fazer mais nada do que mandar bitaites a nivel económico. Pode ser positivo...pode não o ser, a ver vamos (como diz o cego). Enquanto isso, cá andamos (como diz o coxo).
Por Loftarasa, Às 2:13 da tarde
Eu com toda a sinceridade, contínuo a considerar que quer o PS quer o PSD ocupam espaçoes políticos diferentes.
Não digo que em muitos aspectos os seus pensamentos se entrecuzem (opinião quanto ao posicionamento de Portugal face à União Europeia, etc.). No entanto em tantos outros as posições dos partidos diferem. Por exemplo, o Rendimento Minimo Garantido (medida social) foi criado pelo governo PS de António Guterres, e se bem se lembram o governo de Durão Barroso alterou-o (não completamente), mas digamos ajustou-o. Na minha opinião até deveriam ter ido bem mais longe, porque esta foi uma medida, que na teoria foi muito humanista, e muito aplaudida por toda a esquerda, mas no entanto foi claramente uma medida cega, onde não se teve em linha conta vários aspectos, que conduzio assim a imensos abusos, que em nada favoreceram a nossa frágil economia.
Agora dizem-me que alguns dos ajustes feitos não foram humanistas, quanto a mim foram essencialmente realistas, pois eu considero que não se deve governar para o povo bater palmas, mas sim, governar-se sempre com uma perspectiva de médio-longo prazo. Que as medidas que se tomam hoje, nós tenhamos a certeza que dentro de 5, 10 ou 20 anos, estas ainda sejam exequiveis.
Abraço!
Por Jaymz, Às 2:51 da tarde
Pois é caro Jaymz também concordo contigo quando referes que PS e PSD têm políticas diferentes. Infelizmente são já muito poucas. Mas nota, as "políticas realistas" e "exequiveis" que referes são de facto pouco humanistas pois o que não nos interessa é o estado da economia, mas como vivem os cidadãos. No tempo de Salazar os cofres do estado estavam cheios e as pessoas andavam descaças na rua... O povo esse sim é que flutua. Políticas económicas puras destinam-se a manter somente as classes altas lá em cima e o resto é conversa. Mas, enfim, lá estou eu outra vez a ser melodramático... ou não. Abraço
Por Anónimo, Às 5:24 da tarde
Bem é escusado continuarmos aqui a esgrimir argumentos quanto a direita e esquerda, quanto a realismo ou humanismo.
Da próxima vez que vieres à cidade, depois de uns finitos, retomamos esta "discussão".
Abraços!!!
Por Jaymz, Às 6:38 da tarde
Reconheço e subscrevo. Até lá. Abraço
Por Anónimo, Às 10:19 da manhã
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